sexta-feira, 18 de março de 2011

O Sismo no Japão e as Centrais Nucleares

   No dia 11 de Março de 2011,  às 14.30 h, verificou-se um sismo com uma intensidade de 8.9 na escala de Richter, com epicentro a cerca de 128 quilómetros da costa Este do Japão. Devido ao sismo formou-se de seguida um tsunami que varreu a costa do país, provocando milhares de mortos e grandes estragos nas centrais eléctricas (entre outras estruturas). 
   Ainda é cedo para avaliar as consequências do sismo e do tsunami no funcionamento das centrais nucleares pelo que nos limitamos hoje a enunciar os factos ocorridos segundo a fonte TEPCO (Tokyo Electric Power Company). 

   Inicialmente, o sismo e o tsunami levaram a que se encerrassem as centrais nucleares de Fukushima I e Fukushima II, e a central de Kashiwazaki-Kariwa. Às 16.30h não se verificava qualquer anomalia nas medições, não havendo indícios de fuga de radiação. 
   Às 24h, na central de Fukushima I, as unidades 3 a 6 estavam desligadas e sem sinal de problemas. Nas unidades 1 e 2, os reactores estavam a ser arrefecidos, embora na segunda unidade o estado do sistema de arrefecimento fosse incerto. Devido a uma diminuição do nível de água nos reactores considerou-se a possibilidade de libertação de radiação, pelo que o governo japonês ordenou uma evacuação da população em torno de uma área de 3 km da central, como medida de precaução. Na central de Fukushima II, todas as unidades encontravam-se encerradas, com nível de água estável e sem problemas de fornecimento de energia. Não havia quaisquer indicações de fuga de radiação ou do líquido de refrigeração.

   No dia 12 de Março, verificou-se que as temperaturas nos reactores 1 e 2 de Fukushima II excederam os 100 graus Celsius. As pressões nas câmaras de contenção dos reactores começaram a aumentar, pelo que se libertou algum ar ligeiramente radioactivo da câmara para reduzir pressão. Pensa-se que este aumento se terá devido a uma fuga do líquido de refrigeração, que entretanto terá parado. Na central de Fukushima I, também se verificaram problemas semelhantes nas unidades 2 e 3 e, próximo da unidade 1, ocorreu uma explosão, que não terá sido radioactiva. Iniciou-se a inserção de água com ácido bórico no reactor 1 para absorver neutrões em excesso, mas o processo foi parado após um novo sismo que ocorreu às 22.15h (e que poderia ter dado origem a um novo tsunami). A ordem de evacuação foi estendida para uma área de 10 km e, depois, de 20.

   No dia seguinte (13), a central de Fukushima I foi atingida por mais um sismo e ocorreu uma explosão num edifício próximo da central. O nível de radiação em torno do reactor aumentou, e o sistema de arrefecimento do reactor 3 deixou de funcionar. A injecção manual de água do mar para dentro do reactor, juntamente com ácido bórico, continuou durante o resto do dia.
   No dia 14 o sistema de arrefecimento foi reactivado com sucesso no reactor 3. Verificou-se uma explosão de hidrogénio próxima do reactor, mas este não foi danificado. A radiação no local aumentou ligeiramente e depois estabilizou. Ao nível nacional, foi implementado um plano de cortes de energia rotacionais, com cortes temporários de energia em diferentes zonas do país, de modo a poupar a energia necessária para abastecer as centrais.

   No dia 15 atingiram-se temperaturas abaixo dos 100 ºC em todas as unidades da central de Fukushima II, com pressões e níveis de água estáveis. A situação está, aparentemente, contida. No entanto, na unidade 4 da outra central de Fukushima, ocorreu uma explosão no telhado do edifício, e um fogo que foi apagado de seguida. Nenhum dos dois afectou o reactor.

   Até agora, os esforços continuam para arrefecer os reactores 1 a 4 da central Fukushima I.  Está a ser injectada água do mar para arrefecer os reactores, e também se estão a mobilizar helicópteros e carros dos bombeiros para inserir água na piscina do combustível usado, que se encontra a elevadas temperaturas.
Neste momento, em redor da central de Fukushima I, as medições de radiação indicam no máximo cerca de 150 mSv (mili Sievert) p/ hora. Para enquadrar esta medida, alguns exemplos de radiação absorvida no nosso dia-a-dia:
  • Comer uma banana (ou outros alimentos): 0.0001 mSv
  • Dormir ao lado de outra pessoa durante oito horas: 0.0005 mSv
  • Mamografia: 3 mSv
  • Tomografia do peito: 6–18 mSv
   A partir de 250 a 1000 mSv num dia, uma pessoa pode começar a sentir náuseas e perda de apetite, e os nódulos linfáticos, a medula óssea e o baço podem ser danificados.

   No dia 13 na central nuclear de Onagawa, gerida pela Tohoku Electric Power Company, também se verificou um pico de radiação de manhã, embora muito inferior, cerca de 21mSv p/ hora. Dez minutos depois o valor já se tinha reduzido a metade e às oito horas encontrava-se no valor normal.

   Na central de Tokai, gerida pela Japan Atomic Power Agency, foi noticiada uma falha de um componente do sistema de arrefecimento, mas existe um segundo componente em funcionamento e o arrefecimento decorreu como suposto.


   Nota: Já agora, agradecemos ao leitor que nos deixou o link do website da TEPCO (http://www.tepco.co.jp/en/index-e.html). Obrigado!

1 comentário:

  1. Parabéns pela iniciativa e disposição do conteúdo de fácil leitura.
    Abrçs
    Simone

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